quarta-feira, 23 de abril de 2008

No frio da antártica

Vejo no céu

Uma estrela decadente

Sua dança impotente

Indo pra não sei onde

Até acabar-se de vez

Sou eu mesma

Eu sou aquela matéria

Sempre me desfaço


Mas hoje só estou olhando

Enquanto sinto o peso da garrafa

Decrescendo mais e mais

Conforme absorvo o conteúdo

Um beijo líquido, muito líquido

Gelado como o vento

Ela me abraça por trás

Me diluo no universo

terça-feira, 22 de abril de 2008

Frevo do Porto



Outro dia você disse não me querer

Mais tarde me abraçou sentimental

Você finge não saber o que querer, o que querer

Riu das minhas intenções e me mostrou seu ciúme

Quer que eu me mostre sem o que me envolve

E vai embora como é de costume


Compreendi que não vale a pena

Que a sua alma era pequena

O seu fracassado coração

Eu beijei a sua testa

Fui embora fazendo festa

Rodando a saia pelo salão


Foi você quem ficou sem par

Você só sabe dançar

Conforme a música que não é sua

Foi você que quis assim

E fica longe de mim

Que é o seu lugar


Agora que sente saudades

Pelo menos eu tenho essa verdade

Você sente saudades

Daquilo que não tem!

Agora eu sei que sentes saudades

Pelo menos não perca a viajem

E vem pra cá, meu bem

Agora que sente amargas saudades

Mas eu não lhe beijarei dessa vez.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Litígio



Sinto alívio

Mas chamo de culpa

Essas coisas de fim de amor

Sou sincera

Na mesma medida do meu egoísmo

E caso apareça com outra

Pendurada na boca

Não esqueço o isqueiro na mesa

Vou pra casa

Sem ciúmes na cabeça

Um vazio no coração

E um cigarro na boca

Sou péssima perdedora

Mas anos depois descobri

Ela morrera com câncer

Antes de mim

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Doentes de não sei o que.



Você é a moderninha que o tempo esqueceu

Você já passou. Obsoleta

(Te amo por isso)

Nada é seu e também é

Tudo são vozes na sua cabeça

(Por isso também)

O calor da febre

Competindo com o da sopa

Queimando junto com a pele

E minhas infantilidades

Somos dois. Obsoletos.

Dançando leprosos no meio da noite

E você me ama agora

Beijando essa língua dolorida.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Natureza Morta



Tem algo que me prende

No verde que passa

As ondas em nuvem

Quebrando o véu

O céu em mar

Meus olhos hipnotizados

Percorrem toda a janela

Minha mão a atravessa

Finalmente rompe as lentes

Quero entrar na pintura

Já me cobri de tinta

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Entreaberta


Você me beijando e eu chupando seu lábio

Mordidas

Você ainda me beijando

E eu ainda chupando o seu lábio.

Dedos na minha boca

Depois três ou quatro

Dedos seus

No meu espaço

Que você diz que é seu

Eu não digo, apenas produzo sons...

Saio do carro


Sem adeus ...sem abraço

Abro a porta de casa

E no reflexo do vidro

Você estacionado

Como sempre

Você entra sem problemas

E pela porta que deixei aberta

Escapa o perfume de provocações.

domingo, 6 de abril de 2008

Conexão

Faço coisas sem motivo

Ou o motivo é que e sem

Olho aquela foto sua

Do lado da cama

De quando você partiu

E eu fiquei

Tentado levar a vida

Normal

Mas não posso

Você partiu logo

Eu também me parti


Eu comprei uma super cola

Porque você voltou

E joguei-a fora

Porque não foi pra mim

Normal

Outro dia no aeroporto

Um homem me beijou

Fiquei contente

Não era você

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Sinestesia do inverno



Olho pra cima pra não ter que olhar pros lados

Olho pros lados quando o céu está nublado

Escuto as coisas ou as seguro com a boca

Com se pudesse fazê-lo

Mordo os sons, ouço os aromas

Abraço a água quando tenho sede

Quando a flor é salgada

Aquela que foi presente

O macio sabor da lágrima

Afaga a boca da gente

Quando estou sozinha

E isso é freqüente

Eu entro neste mundo sensorial

Saboreio confusa este lugar

Ele fará o mesmo

Naturalmente parece simples

Mas é natural apenas

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Modéstia amiga

Então eu disse

“ele não sabe mas eu o amo”

Apontando pro nome na capa do livro

Foi quando eu vi

Vi o filho da puta que me deu um fora a 3 anos

Vi que o mesmo filho da puta achou que era com ele

Ele sorri desdenhosamente

Eu vi

Ele sorri enquanto o copo se rompe

Destroça-se junto com minha mão

Eu senti

O cheiro do sangue e cerveja

Confunde-se com outras sensações

Perde-se

A garrafa cai no chão

Propositalmente

E algo em mim caia e se rompia

Eram mil cacos de uma substância que até hoje não sei o nome


Todos bebem


A fábrica de ingratos

Possui novos moradores

Vejo quando dançam

E quando bebem

Quando pensam que estão transgredindo

A fábrica de tolos

Possui novos moradores

Vejo quando riem sem graça

E quando bebem

Quando escrevem no computador

Eu vejo

Sinto raiva

E durmo

Esvaziando

Estou ficando realmente triste com algumas coisas

Estou realmente mal da cabeça

A beça

Pensando em como vou me matar hoje

E como vou acordar amanhã

Vendo o fim em todas as situações

Abro os olhos

Seguro a garrafa

Ergo-a até a boca

Fecho os olhos

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Outra dimensão (fluidez de aconchego)



De algo forma que só pode ser magia

Você me conforta estranhamente

Porque não só esses braços e suas palavras me envolvem

O seu olhar me eleva e embala

Os seus cabelos caídos, castanhos

Emolduram o meu rosto

É quando você verte suas palavras em ações

E existe algo de místico neste fato

As palavras que são ditas entre nossos lábios

Não poderão nunca ser escritas

Nem ditas novamente

Pois cada momento tem seu momento

Momento que passa

Fluído entre nós

Também nos abraça e conforta

Deixa marcas




Eu poderia falar das marcas

Dessas muitas marcas que você deixou

Mais isso é muito comercial

Tudo é comercial

O meu orgasmo é comercial

Ele tem menos que 60 segundos

Meu pequeno orgasmo.

Entedies?





Não devias dizer-me algo?

Devias?

Sim devias !!

E o que queres ouvir?

Que me amas.

Não queres algo mais próximo da realidade?

Pode ser.

Quero mete-lhe mil estocadas agora.

Não, não pode ser.

Então o que pode ser?

Me amas?

Não te amo, mas temos filhos.

Não podes dizer algo mais distante da realidade?

Amo com a força que tem a beleza das estrelas.

Bonito.

E agora...Despe-se para mim?

Devias?

SIM DEVIAS !!!!

terça-feira, 1 de abril de 2008

A história surreal do baú




Eu procurei um lugar discreto

Onde ninguém achasse

Planejava esconder o que ninguém lesse

Mas enquanto executava meu plano

Deixei que o plano do destino se escrevesse

[maldito, três vezes maldito]

Maldito! Maldito! Maldito!

Sentia que alguém me seguia

Olhei pra traz e disse:

Eu não te amo

Depois que nós trepamos ele disse:

Você escreve bem.

Amor diabético amor


























Sou louco por ela
Por sua profundidade
Pouco me importa as doenças do mundo
A feiúra crua dos dias
A mim importa essas unhas cruéis
Esse cheiro salgado
Meu amor
Ainda vou torná-la doce







Editado. Publicado.Vivo













Eu vou escrever um livro

Chamado “escrever é para tolos”

Só terá uma página

Com um nome tolo (o meu)

E uma foto tola (a minha)

Autografo-lhe

Envio-lhe

Quatro dias depois

Ele estará na caixa do correio (da minha casa)